sexta-feira, 18 de março de 2011

"Tá ruim, mas tá bom"

Todo escritor tem responsabilidade sobre o que escreve, assim como todo o jogador de futebol que representa um país tem a sua responsabilidade sobre tudo o que faz em seu campo de trabalho.

Nossa alma precisa de respostas às perguntas que surgem após o fracasso de uma partida de futebol. Cada cidadão monta a sua resposta conforme os conhecimentos que tem, assim como cada especialista busca respostas dentro de sua especialidade. Os conhecimentos formados dependem das informações recebidas sejam quais forem as suas origens.

Quando se perde a cabeça, soltam-se os instintos. Quando a mente já não consegue mais adequar o nosso comportamento, praticamos ações que podem nos custar muito caro – um preço do tamanho das nossas responsabilidades.

Torna-se assim muito difícil conseguir uma explicação única para o Brasil ser eliminado nas quartas de final, assim como o foi a Argentina e tantos outros times perdedores nesta conhecida etapa do mata-mata, que poderia ser chamado de perdeu-morreu ou ganhou-ficou. De cada partida sairá sempre um vencedor e um perdedor. Nesta fase do campeonato não vinga mais o princípio do ganha-ganha, ou perde-perde. Vencedor é o que ganha a partida e permanece na disputa ao título de Campeão Mundial de Futebol. Perdedor é o que simplesmente é eliminado e volta para o país de origem, sem choro nem velas. Para o perdedor, resta sonhar com o próximo campeonato, pois não há recuperação obrigatória (RO) nem segunda época, e nem muito menos dependência ou reclassificação em outras escolas, como temos na nossa educação escolar. Para manter o espírito competitivo, a revanche será num próximo campeonato. Não é errando que se aprende, mas corrigindo o erro.

É comum buscarmos um bode expiatório, como o juiz, o tempo, o campo, a bola jabulani , as vuvuzelas, um jogador, o técnico, seja quem ou o que for. Já fui bode expiatório quando fui surpreendido pela saída dos torcedores revoltados com a derrota do seu time no Pacaembu, quando um deles deu um soco e quebrou o espelho retrovisor do meu carro. Ele simplesmente descarregou a sua raiva pelo seu time perder o jogo de futebol daquela tarde. Eu fui imprudente quando passei por lá naquela hora. Poderia estudar o trajeto por onde eu passaria para não me encontrar com vândalos perdedores que vão quebrando tudo o que veem pela frente... Sob a forte emoção da derrota, este torcedor “perdeu a cabeça”. Nenhum delegado ou juiz lhe daria razão para agredir um inocente, mesmo que fosse um juiz ou um jogador do seu time. Ninguém pode “fazer a Justiça com as próprias mãos”. O perdedor pode vaiar no estádio e, fora de lá, escrever manifestos sob a forma de cartas, colunas, SMS, internet, mas com civilidade.

Reconheço publicamente os esforços que cada jogador e cada integrante da equipe técnica fizeram, com empenhos pessoais que não podemos negar, e temos mais é que agradecer.

Mas não posso me calar do quanto a máxima “Tá ruim, mas tá bom” que reina entre a maioria dos brasileiros tivesse reinado também nos gramados do estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, na Copa da África do Sul, em 2 de Julho de 2010. Um a zero para o Brasil aos 10 minutos de jogo deveria ser um prenúncio de uma goleada, mas o primeiro tempo acabou sem mais gols. Para o Inconsciente Coletivo, 1 a zero era um “bom resultado”. Deixou de ser bom quando levou o primeiro gol aos 8 minutos do segundo tempo e tudo piorou ao sofrer o segundo gol. Então o Inconsciente Coletivo tornou-se cruel e expulsou um brasileiro e transformou o tempo em um feroz inimigo...


http://educacao.uol.com.br/colunas/icami_tiba/ 

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